domingo, 11 de julho de 2010

Quem pariu o Mateus, que o balance!

Fui convidada para a festa de aniversário de um amigo e, tão logo aceitei o convite, peguei o calendário mais próximo e comecei a contar os dias. Uma amiga que estava comigo no momento não entendeu minha reação e perguntou: “Mas o que é isso? Você é convidada para um aniversário e depois vai contar dias no calendário?” Pensei em explicá-la a importância crucial do que estava fazendo, mas limitei-me a ser específica: “Estou vendo quando é a próxima folga da babá”.

Para minha infelicidade, ela estaria de folga. Olhei pro sofá e vi a Bia com uma canetinha preta prestes a fazer uma obra surrealista no braço do estofado. Respirei fundo e tentei racionalizar:“Ok, Lígia. Tudo bem. Você é adulta, tem um 2 braços e 2 pernas... outros já fizeram isso antes. Não pode ser tão complicado assim!”

E pra ser sincera, foi bem mais fácil do que eu imaginei. Os amigos e conhecidos que sabem da minha não-aptidão com o universo infantil, ficaram chocados com as cenas que foram, inclusive, fotografadas e filmadas. Sentei no chão de roupa nova e nem liguei (bom, talvez um pouco), para brincar de massinha com umas 10 crianças diferentes. Por fim, dei banho de mangueira na Bia e nas outras amiguinhas, que saíam correndo pela grama verdinha dando gargalhadas até cair no chão.

No final das contas, eu também me diverti. Ver a Beatriz sorrindo não tem preço, mas confesso que tive que trazer do fundo do baú o melhor de mim, e que essas cenas só serão repetidas daqui a 4 anos, que nem Copa do Mundo. Mesmo assim, admito que continuo achando as conversas em “roda de mães” o que há de mais sacal no universo, e que discutir a melhor linha educacional das escolas me dá tanto ânimo quanto comprar carne no açougue. Prefiro mil vezes falar do último desfile do Lino, de um lugar que quero conhecer ou até da disputa presidencial, juro.

Mas antes que eu pareça uma mãe desnaturada, digna da intervenção do estado, gostaria de esclarecer o contexto. Definitivamente, não nasci com um instinto maternal aflorado de propaganda da Johnson´s, não tenho paciência para brincar com as crianças dos outros e, até me descobrir grávida, não tinha nem muita certeza de que gostaria de ser mãe.
Sobre este último aspecto, parece que a decisão não estava plenamente tomada – assim diria Freud – do contrário seria impossível ter engravidado, por motivos ligeiramente óbvios.

Aliás, num desses programas televisivos de exposição das mazelas nos relacionamentos, a psicóloga contratada para falar bonito às câmeras dizia que o próprio fato de se esperar um bebê já era indicativo de que, em algum lugar, no mais profundo do ser, havia esse desejo. Mesmo inconsciente.

Lembro que na época fiquei em dúvida se ela tinha razão, até porque confesso que mesmo grávida não me vi aproveitando os meses da gravidez com magia, delicadeza e encantamento. Enjoei quase todos os dias das 39 semanas que a Beatriz ficou dentro de mim, senti-me doente, com o corpo dolorido a maior parte do tempo e trabalhei feito uma condenada porque só pensava nos gastos com a escola, babá e fraldas. Não vou nem mencionar o quanto me senti ridícula com aquela barriga que esbarrava em todo lugar.

Para completar, acredito que coloquei por terra o mito da mulher grávida com desejos. Primeiro porque afirmo, sem sombra de dúvida, que isso é frescura. Simples assim. Honestamente, sempre desconfiei de que essas vontades inexplicáveis não faziam muito sentido, mas como nunca tinha esperado um bebê não tinha como ter certeza. No entanto, quando fiquei grávida da Beatriz, percebi que maior do que qualquer desejo específico, o que sentimos mesmo é muita carência e necessidade de atenção. Aí já viu, juntou a fome com a vontade de comer. Uma grávida qualquer deve ter tido essa ideia há muito tempo atrás, percebeu que dava ibope com o marido dizer que queria comer alguma combinação exótica, e pronto. Como nenhum homem vai poder dizer que a mulher está mentindo, já viu, virou tradição que dura até hoje.

O fato é que, por vezes, lido com a maternidade de um jeito diferente das outras mães que conheço. No início, isso me preocupou bastante, tanto que eu ficava feito louca, tentando ler e me informar sobre tudo, para que não deixasse de oferecer à minha pequena nada que fosse essencial para a formação dela. Tinha medo, por exemplo, de que por não ter colocado música clássica para a minha filha escutar enquanto estava na minha barriga, ela fosse ser mais infeliz, sei lá. Ou se eu não comprasse o melhor móbile da marca mais cara do mercado, ela não seria capaz de se desenvolver corretamente.

Eu sei, são neuras. Mas sei disso hoje, quando ela tem mais de 2 anos. Ainda bem que percebi, em tempo, que o tal do instinto maternal é algo que parece ser muito mais individual e particular nas próprias características, do que se divulga por aí.

O meu, por exemplo, me dizia que niná-la com Like a Virgin, ao invés de Boi da Cara Preta, era muito mais legal. Ou que não levá-la para um espetáculo dos Backyardigans, cujo ingresso custa 150 reais, não vai fazer dela uma pária da sociedade.

Não sei, mas tenho a impressão de que a palavra instinto carregue, em si, um certo exagero semântico, perdoado somente pela licença poética que envolve a maternidade. Por via das dúvidas, prefiro acreditar no Pequeno Príncipe, que desde que eu era criança, tinha me alertado sobre a chave da questão:responsabilidade. Aquela, sobre tudo o que cativo.Lembram?

6 comentários:

  1. KKKKK, assim que comecei a ler "peguei o calendár...", já sabia: a folga da babá!!! Hahaha, ultimamente eu vivo com um calendário na mão, fazendo mil malabarismos...
    Adorei o post!
    Beijos,
    Michelle.

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  2. Obrigada, Michelle!!! E boa sorte com os malabarismos!:) bjs

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  3. eu, como não tenho babá, deixo na casa da vovó e já vou logo avisndo que vou botar pra quebrar. Liginha, amiga, o povo vive me criticando pq TODO FDS eu e meu marido tiramos um dia para sair. Farrear mesmo, com direito a porre e ressaca no dia seguinte. Não é pq somos mães e pais que deixamos de ser jovens. Todo mundo precisa de tempo pra si e eu não dou a mínima para o que falam pq APOSTO que vivo muito melhor(tanto comigo mesmo como com o marido e o filho)que esses pais que ficam cada minuto com s flhos,mas que no fim das contas acabam reclamando do coitado do filho o tempo inteiro e do marido e da vida em geral. No fim das contas, todo mundo sai perdendo pq estar com o filho deixa de ser divertido e passa a ser só obrigação.
    Narinha

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  4. estou adorando o seu blog! sou mae tbm, de uma sapequinha (na verdade uma grande sapeca) de quase dois anos. Sobre os desejos eu tbm nao acreditava nisso nao, mas quando tava gravida de Annaclara eu tinha uma vontade danada de comer goiaba, como eu to na Italia, e aqui eu nao consegui encontrar, passei toda a gravidez sò na vontade... Pode parecer inacreditavel, mas a minha pequena nasceu com uma mancha verde perto da nuca, e è grande e mais ou menos com um formato da fruta... fiz exames pra ve se poderia ser alguma coisa, mas nao, è uma mancha e basta... pode atè ser uma besteira, mas agora acredito no desejo durante a gravidez... kkkkkk adorei seu relatos!

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  5. Meire do céu, ágora que você me contou dessa mancha, lembrei que a Bia também tem um sinal branco, bem redondinho,no braço. Assim como vc, levei em tudo que foi de médico, mas parece que é apenas um sinal de nascença mesmo. Agora vc me pegou: será que foi por causa do sonho de valsa branco que um dia eu quis comer e não tinha em casa? :) Obrigada por participar! Volte sempre com novos comentários, afinal esse espaço é NOSSO. Bjs pra vc e sua sapeca

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  6. Oi,adorei o blog... Tb não fui uma grávida deslumbrada com o barrigão, q achava mesmo era muito estranho, todos os dois q tive... rss Outra coisa q acredito é q só consegui curtir realmente a maternidade qdo deixei de amamentar... Fui uma mãe realizada qdo peguei meus filhos no colo sem estar com os seios machucados e derramando leite o tempo todo... rs Ai ai q felicidade tive e tenho em estar com os meus pequenos e ser chamada de mamãe e sentir essa maternidade q todos falam... Vc sente tb só q do seu jeito sem fórmulas prontas!!! E isso é ma-ra-vi-lho-so!!! Bjão

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