domingo, 4 de julho de 2010

Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

A mais nova mania da minha filha de 2 anos é acordar no meio da noite, sempre depois das 3 horas da madrugada, para brincar. Não é dor, insônia nem preocupação com os novos rumos da economia.
Não sei...imagino que certo dia ela deve ter despertado nesse horário, por qualquer outro motivo, e pensado: “Ei, agora é um bom momento para brincar. O clima é ameno, fresquinho, eu não estou cansada e a mamãe está no mais profundo sono...Perfeito! Posso acordá-la! Ma-mãaaaaaaeee!!!”
Antes que alguém pense em me sugerir dar brinquedos para que ela se entretenha sozinha, adianto: eu já tentei. No entanto, ela parece estar na fase dos “terríveis 2 anos”, como diria a Encantadora de Bebês (momento “merchand”), e faz questão de que todos na casa participem da incrível jornada da madrugada.
O pai alega que nunca a escuta chamando, o que desperta em mim sérias desconfianças dessa queda em sono profundo, convenientemente acionada como um chip programado geneticamente para agir depois que o primeiro filho nascesse.
O irônico disso é que eu sempre achei que este seria o meu comportamento como mãe, já que não me imaginava segurando um bebê no colo antes dos 40 anos. Podia jurar que teria muita dificuldade de sair dos braços de Morfeu para atendê-la quando ela acordasse com fome, dor ou qualquer outro problema.
Ledo engano. Primeiro porque as palavras “farra” e “filha” parecem não mais existir na mesma sentença, pelo menos não na minha vida. Segundo porque, gostando ou não, descobri mais uma das mudanças estranhas pelas quais toda mãe parece passar depois que tem filhos – além de começar a gostar do Roberto Carlos – mas não conta a ninguém: não consigo mais dormir em sono profundo. Nem que eu queira e me esforce muito.
Não consigo ignorar o chamado daquela “vozinha” gritando meu nome. Até poderes telepáticos e premonitórios acredito que já comecei a desenvolver, porque sou capaz de escutá-la mesmo que um trio elétrico esteja passando ao meu lado. Juro que já aconteceu até de acordar no meio da madrugada porque achava que ela precisava de mim, e em seguida ela chorar.

Na semana passada, depois de tê-la colocado na cama pela enésima vez, tentei uma nova tática. Acordei (óbvio), mas fiz de conta que não tinha ouvido nada, e nem me movi da cama. Acreditava que isso seria o bastante para destituí-la da ideia fixa de procurar um dos sapatinhos da Cinderela e levá-la para dançar com o “Pimpe”(versão de Beatriz para “príncipe”) no baile às 3:33 da madrugada. Preciso assim.

Aliás, peço licença nesta parte para abrir um parêntese e comentar algo que ainda estou em dúvida se é algum aviso do final do mundo ou apenas TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Sempre que acordo e olho para o relógio, vejo números repetidos, tipo: 2:22, 3:33 e por aí vai. Não faço ideia do que signifique e espero que não seja nada catastrófico, porque honestamente ando tão cansada que falta coragem até pra ficar com medo.

Voltando ao assunto “Bia e o sapato da Cinderela”, de nada adiantou ignorar o chamado. Ainda pensei em explicar que já fazia algumas horas que a princesa tinha se transformado em doméstica novamente, mas fiquei cansada só em elaborar esse raciocínio.

Antes mesmo de pensar no que fazer, senti um dedinho gelado abrindo meus olhos, enquanto uma voz dizia baixinho: “Acorda, mamãe”. Tive vontade de rir e chorar, ao mesmo tempo.

Muitas negociações depois – que envolveram, inclusive, a mediação do difícil empréstimo do sapato de Ariel para Cinderela e três histórias da Moranguinho– fomos todos dormir. Pelo menos pela próxima hora, quando já exausta, deixei-a dormir na nossa cama. Por favor, sem comentários.

Ok, sei que perdi o controle. Não deveria ter cedido, afinal “como posso impor limites dessa forma?”, você deve estar se questionando. Sim, tem razão...tem toda razão. Mas quer saber? Desculpem-me as educadoras de plantão – aliás é melhor nem continuar lendo esta crônica – mas nesta hora mandei a Super Nanny pra-casa-do-cara-le-o. Poxa, sou apenas uma latino-americana tentando sobreviver!

Uns dias depois meu pai vem em casa visitar a neta e pergunta como ela está se comportando. Respondo que ela está bem, então ele vê minhas olheiras e pergunta de novo. Respiro fundo e começo a explicar que já tem algumas noites que ela não me deixa dormir porque quer brincar, que é tudo muito difícil e que não me sinto preparada para tantos desafios, quando ouço meu pai cair na gargalhada.

“Não entendi”, digo contrariada. “Você está rindo porque não é com você”, disparo, mal-humorada. Foi nesse momento que, gentilmente, ele me lançou um olhar terno, daqueles que só os pais conseguem dar aos filhos quando estão lhe ensinando algo, e me disse com ternura: “Que bom ela não ter lhe deixado dormir porque queria sua companhia para brincar, minha filha. Veja bem, o tempo passa rápido. Você poderia estar sem dormir porque é madrugada e sua filha ainda não voltou pra casa. Ou pior, porque é madrugada, ela ainda não voltou pra casa e nem quer que você fique acordado esperando ela chegar. Já pensou nisso?”

Abaixei a cabeça e nem uma palavra saiu mais da minha boca. Naquela noite, quando minha filha acordou, acendi a luz e brincamos de princesas.

5 comentários:

  1. Nossa, vc descreveu exatamente o que tenho vivido com minha filha de 2 anos também... Realmente estou acreditando nessa tese dos "terríveis 2 anos"! Tenho outra bebê de 9 meses, que dorme a noite inteira, mas a de 2 anos "cisma" em acordar de madrugada, seja por que motivo for... E o pior: às 6 da "madrugada" a de 9 meses acorda "a todo vapor"! Afinal, agora é sua vez de brincar e ela já descansou a noite inteira, né? Ai, ai, essa maternidade tem muitas mazelas mesmo... umas engraçadas, outras nem tanto!
    Parabéns pelo blog, quem me indicou foi meu sogro (talvez por perceber certa "semelhança" nos relatos), que é amigo do seu pai.
    Um abraço,
    Michelle - mãe da Letícia e da Anita.

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  2. Filhos, melhor não tê-los.
    Mas, se não os temos, como sabê-lo?

    Vinicius era, e é, um grande poeta, autor de versos antológicos, como aqueles que se constituem num surpreendente e desafiador paradoxo:

    Quando o filho chora de noite, quando o filho vai mal no colégio, quando o filho cria confusão, "Filhos, melhor não tê-los".
    Mas esta não é uma afirmação definitiva. A maternidade dá incontáveis alegrias. Conferem às pessoas um sentimento de realização pessoal que corresponde a uma necessidade embutida na própria condição humana, a um verdadeiro e poderoso instinto. Para mim,paternidade e maternidade significam continuidade.

    Hoje, alguns casais chegam a questionar o custo-benefício para responder à questão do vale ou não a pena. Mas o comum das pessoas não chega a esses extremos. O resultado é a dúvida. Que só pode ser esclarecida correndo o risco. Porque a vida é isso, correr riscos.Rssrsr... Quem não se arrisca não apenas não petisca: não vive.Como diz Clarice..."...viver é correr risco..." E num ponto concordo com o meu genro: "Filhos pequenos, pequenas preocupações; filhos grandes, grandes preocupações."

    Enfim, as histórias se repetem...rsrs...Por alguns instantes voltei a 14/07/80 ehehe... essa é a minha história, pensei...Afinal,você fez igual a Bia, e olha que isso é apenas um começo....Enfim,é bom ou é ruim ter filhos?
    É Maravilhossssssssssssssssssssssssssssssssssoooo....Amo muito vocês, inclusive,como diz o seu Pai: " os doces nojentos" também..eheheh...

    bjimmmmmmmmm
    Mamys

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    tô que não me aguento de rir....
    Porra de super Nani, Liginha. Eu queria ver se fosse a filha dela, ora bolas.
    A gente que é mãe também tem nossos próprios limites e eu, depois de 2 tentativas nas madrugadas, ligo o dvd e ponho davi na nossa cama, sim senhora!
    só não concordo contigo numa coisa: filho e farra podem andar juntos simmmmmmmmmmm.
    acho que vamos ter que conversar mais,amiga
    beijoooooo
    narinha

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  4. Liginha, adorei seu blog!
    Deve ser incrível ser mãe e já sinto esse desejo. Eu sou só tia, mas já adoro. A Sophia tem dois anos e é a coisa mais linda e danada desse mundo :D
    Beijo pra vc!

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  5. Maryllin, que saudades querida! E obrigada por participar, viu? Fala do blog pra sua irmã e convida ela pra dividir as mãezelas por aqui tb...eheheh Bjs enormes

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