quinta-feira, 15 de julho de 2010

No escurinho do cinema

Desde o dia em que minha filha nasceu, aguardava este momento chegar. Talvez até com mais ansiedade do que esperei pelos primeiros dentinhos ou passos. Por vezes pensei em forçar a barra, mas quando olhava para aquela bebê ainda inapta a lidar com o ambiente escuro e barulhento, acabava desistindo. Realmente podia assustar, então sempre ficava para uma próxima oportunidade.
Mas eis que o dia havia chegado. Na terça-feira, dia 13 de julho de 2010, levei minha filha pela primeira vez ao cinema. Para além do fato de que levá-la para conhecer algo novo já seja, em si, fantástico, neste caso a emoção era ainda maior.
Em primeiro lugar porque eu sou absolutamente apaixonada pelo cinema. Não me refiro nem aos filmes que passam por lá, mas ao lugar mesmo, entende? É a química do cheiro de pipoca misturado com ar condicionado e bombom, o friozinho gostoso que dá vontade de levar um casaco, a poltrona, a tela grande, o burburinho das pessoas chegando... Ah, o cinema...
Costumo ir toda semana. De preferência sozinha e, de preferência, num horário pouco movimentado. O motivo é um só: tenho ciúme dele. Queria ter dinheiro para reservá-lo só pra mim, mas como não posso, tento evitar o encontro com outras pessoas no recinto. Lá, me sinto numa terapia. O ambiente é, ao meu ver, extremamente facilitador à entrega, portanto é isto que faço: visto a carapuça e sou capaz de rir bem alto ou mesmo chorar copiosamente.

Depois, o cinema é pura nostalgia em minha vida. Impossível lembrar da infância e não ter flashes da cadeira vermelha do Cine São Luís, os grandes lustres ou o segundo andar com parede de vidro, que eu achava que era feito especialmente para quem não sabia ler e precisava de um tradutor ao lado. Só muito tempo depois fui saber que, na verdade, aquele era um ambiente reservado aos fumantes,imagina.
Na memória mais remota que tenho da minha ida ao lugar,está meu pai e eu, no segundo andar, assistindo História sem Fim. Eu tinha 5 anos e não sabia ler. Assim, meu pai passara boa parte da exibição traduzindo cada palavra. Digo boa parte porque assim que o Homem de Pedra entrou em cena, abri o berreiro e quis ir embora.

Sendo assim, minha mão suava frio enquanto conduzia Beatriz, pela primeira vez, rumo à Sala Mágica. Procurei ficar quietinha para não perder nada daquele momento, nenhuma reação. E logo na entrada, ela gritou de felicidade: "Olha, mamãe! Tá escuuuro!"
Escolhemos nosso lugar, acomodamos nossa pipoca e refrigerante, e esperamos O Shrek aparecer. Os olhinhos da Bia nem piscavam. Ela estava encantada com o tamanho da tela e não parava de me apontar tudo que encontrava: "Olha mamãe, olhaa".
Eu olhei. Vi enquanto ela observava a quantidade de gente sentada em cadeiras enfileiradas, o jeito como ela ria, mesmo sem saber o motivo, só porque as outras pessoas assim o faziam, e a forma como, avidamente, colocava a mão dentro do saco de "picoca" (sic Bia) quase do tamanho dela.
Agora, claro, como meu relato não é filme de ficção, nem tudo foi perfeito. A paciência dela durou até o final do saco de pipoca (entendeu agora o tamanho grande?), o que representa mais ou menos 1 hora e 10 minutos de filme. Assim que a comida acabou, o cinema também. Pelo menos pra ela.
"Se levanta, mamãe. Vamos?", ela pediu, estendendo o braço. "Tudo bem, filha. Se pra você foi o suficiente, pra mamãe também foi. Mais do que suficiente", disse enquanto segurava na mãozinha dela e a conduzia para fora, feliz da vida.

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