domingo, 2 de janeiro de 2011

O dia do Arremesso

A semana inteira passei explicando pra ela que o tal do Ano Novo estava chegando. Até historinha criei para fazê-la entender a complexa questão da passagem do tempo e a ideia de que um ano estava indo embora e o outro nascendo. Notei que ela ficou pensativa enquanto eu falava, talvez tentando imaginar onde é que estava o tal do Ano Velhinho. Aí lembrei que eu mesma, quando era criança, costumava chorar no Reveillon, por um motivo muito peculiar. É que eu ficava imaginando um velhinho, que nem o meu avô, tendo que ir embora e morrer, só porque era chegada a hora dele. Ficava morrendo de pena do Ano Velho, como se fosse uma pessoa mesmo.
Quando a gente cresce, os sentimentos e significados que damos ao que nos rodeia é naturalmente modificado. Há os que continuam chorando na passagem de ano. Alguns com saudades das coisas boas que viveram, outros recordando os momentos difíceis que tiveram de enfrentar e todos, certamente, despejando muitas expectativas em dias seguintes "mágicos", marcados simbolicamente por um ano novinho em folha.
"Chegou o Ano Novo, filha", gritei apontando pro céu.
Mas a Bia não entendeu nada daquele fuzuê em torno de um único dia. Viu os fogos sentada nos ombros do pai, deixou que eu a abraçasse com força e até gritou de alegria vendo todas aquelas luzes coloridas no céu. Mas o espetáculo não durou mais que alguns minutos e quando percebeu que isto era tudo o que ela poderia esperar da "tal" festa do Ano Novo, ficou mal-humorada: "Cadê o Ano Novo, mamãe?"
Passado apenas uns vinte minutos da meia-noite, ela virou pro pai- ainda sob o efeito da empolgação do reveillon - e pediu com voz de cansaço e olhinhos vermelhos de sono: "Papai, não quero mais o ano novo. Quero ir pra casa". Ainda tentei enrolar, colocá-la pra dormir na festa, mas não teve jeito.
Assim, ainda antes de bater a primeira hora do primeiro dia do ano, estávamos nós três voltando pra casa. O céu claro, as ruas vazias, um ou outro passando vestido de branco, a Bia capotada na cadeirinha do carro e uma silenciosa paz que nos acompanhou quase todo o trajeto pra casa.É, um novo ano, cheio de novos sentidos, estava mesmo começando.

Um comentário:

  1. rsrs Adorei o "cadê o ano-novo". Ser mãe da Bia parece ser mesmo uma aventura.

    ResponderExcluir

Sobre tudo isso...