quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Complicada e perfeitinha

No caminho para o trabalho, em meio a um trânsito caótico com motoristas impacientes, o celular toca. É minha mãe. Atendo. Antes mesmo que pudesse explicar que estava dirigindo, ela começa a falar. Parece séria, diz que vai fazer uma reclamação e inicia o discurso.
Segundo a denúncia, a Beatriz está muito chata, não quer mais dar abraço, carinho e ainda por cima disse que prefere brincar com a babá que ela só conhece há 48 horas do que ficar com a avó.
Respiro fundo. O conteúdo me soa tão hilário que mal consigo levar a sério. Ela não se faz de rogada e declara: "Se ela não quer saber de mim, eu também não vou querer saber dela!" Pausa na ligação. Juro que não aguentei. Caí na gargalhada. A frase foi tão absurda que, assim que se ouviu dizer essas palavras, ela também começou a rir.
"Mãe, você jura que vai se trocar com uma menina de 2 anos?", perguntei, no momento em que retomava o fôlego para me concentrar no trânsito (atenção: não façam isso! Direção e celular não combinam!)
Enquanto esperava uma carreta sair do prego e o trânsito finalmente se mover alguns centímetros, tive uma longa conversa com minha mãe, tentanto explicar que essa atitude é muito comum nessa faixa etária e que na verdade, ela só está tentando chamar a atenção de quem ama.
Não sei se ela se convenceu por completo da minha explicação, mas disse que sim.
O pior é que, de certa forma, nem eu me convenci direito do que acabara de dizer. Não podia colocar mais lenha na fogueira, mas realmente a minha doce Bia vem atravessando uma fase,digamos, um tanto quanto complexa. Há alguns psicólogos que alegam ser uma espécie de "adolescência" na infância. De fato, parece com isso. Num período de 24 horas, ela é capaz de oscilar entre querer ser "grande" e dizer que é bebê, pedindo colo. Diz que quer carinho, mas em seguida recusa qualquer abraço. Eu fico confusa, o pai também e acredito que ela mais ainda!
Antes que a família inteira surtasse, comecei a ler alguns artigos e livros sobre o assunto, certa de que alguém me apontaria a solução mágica para transformar a minha pequena-confusa-adolescente-bebê em uma criança doce e comportada, como as do comercial de telefone celular.
No entanto, o único conselho que encontrei, em resumo, foi: senta e espera passar. Simples assim. Pode Arnaldo?
É, parece que pode. Afinal, qualquer um de nós passa pelas mesmas inconstâncias. Uns mais e outros menos. Ou não? Eu, por exemplo, de vez em quando me comporto feito uma adolescente querendo ganhar o mundo. E se ficar gripada, automaticamente viro bebê de colo e tenho uma necessidade quase instintiva de gritar pela minha mãe (e às vezes grito, viu?).
A questão é que eu pensava que essas crises de identidade só vinham depois, com uma certa maturidade. Pelo visto, eu estava enganada.
Fiquei tentando imaginar como minha filha de 2 anos e 8 meses se sente. Talvez pudesse ser mais ou menos assim (com tecla sap para adultos): "Pô, mas que merda!Eu não posso andar de patins e nem de skate porque dizem que eu sou pequena. Aí quando eu choro pedindo pra dormir com eles, a mamãe vem com história de que já sou grandinha pra dormir sozinha. Afinal, o que eles querem? Me deixar loooouca??"
É, a vida de criança pode ser dura.

7 comentários:

  1. tive a oportunidade de escutar esse relato pessoalmente, muito bom ! Quase me engasguei nas gargalhadas!

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  2. É mesmo, Tales!!ahahah.... Que legal ver vc comentando! Sinal de que alguém lê! Eba!!!! Bjs

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  3. É...
    Mãe passa por cada uma...
    Até por ciúmes de vó!!!!

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  4. Ei Lígia, eu escrevi uma monografia sobre adolescência. Se vc quiser ler, eu te arranjo. rs :P

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  5. Lígiaaaaaa,
    Que bom que nestes dias de férias você voltou a escrever ! :) Adoooro seus posts !!! Quer dizer que minha norinha está uma "adolescente infantil" é ? Pois diga a ela que o prometido dela entende perfeitamente e que está pacientemente esperando essa fase passar...kkkkkk...
    Bjos !

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  6. Ligia!!!

    te achei pelo blog da Sam!
    Amando ler e aprendendo aqui contigo, daqui a pouco Luisa vai passar pelo mesmo e vou seguir o terrivel conselho: sentar e esperar!!!
    Imagino Tia Lidia na situacao!!!
    beijo em todas essas mulheres fantasticas que voces sao!

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  7. Leti, querida amiga!!! Leia e comente sempre!!! Será que aí por Londres o jeito de educar essas pequenas parece com a nossa brasileira?

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