terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O dia em que vi um anjo

Depois de quase 3 meses, 500 reais em conta de celular e muito dinheiro gasto com faxina e creche, tenho a impressão de que consegui arranjar uma nova babá para a Beatriz. Durante todo esse tempo, fiquei ansiosa pelo momento em que finalmente poderia fazer as unha sem ter uma criança querendo quebrar o salão inteiro, ou mesmo ir ao cinema com meu marido. E agora, finalmente, o dia parece ter chegado.
Conversei com a moça e combinamos que ela começaria dali a uma semana, afinal ela também precisava acertar as contas com a antiga patroa. Tudo agendado, parti feliz da vida com a Beatriz para o shopping. Nem liguei se ela estava chorando, enjoada com sono, ou se não queria comer. "Daqui a 8 dias eu vou poder relaxar um pouco", mentalizava.
Foi nesse momento que o vi: sem asas, auréola ou mesmo aquele vestido celestial que o denunciaria de imediato. Ele estava sentado numa mesa da praça de alimentação. Viu que eu passava de mãos dadas com uma criança e me chamou. A princípio, achei que tivesse me confundido com alguém. "Pois não, senhor?", perguntei. Ele apenas estendeu a mão, como se quisesse que eu me aproximasse. Devia ter mais de 70 anos, mas o rosto enrugado tinha um semblante delicado, suave. Neste dia, a Bia estava particularmente "difícil". Impaciente, fazendo birra e sem querer almoçar. Portanto, seguiu-me com muita relutância até aquele senhor que acenava. Quando cheguei perto, ouvi ele dizer: "Você não deve querer que ela cresça logo. O tempo passa muito rápido, moça. Muito rápido..." E fez uma pausa, para em seguida continuar: "Aproveite cada minuto, cada segundo que você tem a oportunidade de ter com sua filha, porque muito em breve ela vai crescer, e aí as coisas mudam".
Sorri pra ele e segui adiante. Mas aí foi que caiu a ficha do que tinha acabado de me acontecer. Olhei pra trás, procurando por ele, mas não o encontrei mais em parte alguma. E ali soube que um anjo tinha falado comigo. Podia ter sido uma amiga, o atendente do supermercado ou o frentista do posto. Mas como às vezes estamos desatentos, deixamos de perceber o invisível aos olhos.
De fato, nenhuma babá jamais vai substituir o amor e a missão que tenho na formação do caráter da minha filha. Com ou sem babá, com ou sem birra, com ou sem descanso, cabe a mim esta honrada função.
Guardei no coração aquelas palavras e abracei minha filha com toda a força do mundo. Naquele dia, agradeci a Deus por ter enviado um anjo e me lembrado de que para sempre serei mãe, só em caso de eu me esquecer.