sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Tempos líquidos

Essa semana levei para os meus alunos um dos filmes que mais marcaram minha infância: Cinema Paradiso. O interessante de vê-lo novamente foi perceber toda uma construção de novos sentidos, de modo completamente diferente da 1a. vez que vi a película, ainda criança. Desta vez, o que não consegui tirar da cabeça foi a conversa de Alfredo com Totó, quando este já não é mais criança e começa a amadurecer. Alfredo diz que Totó precisa ir embora, precisa viver, experimentar o mundo, e que não deveria olhar para trás."Daqui por diante, não quero mais falar com você. Quero ouvir falar de você", diz Alfredo.
Ah, que difícil criar um filho para o mundo. Deixá-lo ir, sem cordão umbilical nem nada, sozinho, responsável pelos próprios acertos e erros...
Assistir o filme novamente só me fez enxergar essa relação pai-filho de um modo completamente inesperado. Além do que, me levou a pensar no momento quando chegar a minha vez de dizer:"Vá".
Hoje, só de imaginar, fico com um nó na garganta e um monte de perguntas na cabeça:"Será que fico assim por que é a Bia quem ainda precisa de mim? Ou eu que preciso dela?"
Ontem mesmo quis colocá-la no braço, mas recebi em troca um dedinho apontado pra cima e uma vozinha dizendo: "Não, mamãe. Eu não preciso de braço, eu já sou uma criança".
Na hora ri, mas confesso que por dentro fiquei arrasada.Entre um punhado de fraldas e algumas aulas, mal percebi que 2 anos já se passaram desde que aquela pequena rosadinha nascera.
E aí foi que percebi como o tempo, de fato, é líquido. E como é difícil estar no papel daquela que educa, ama e, ao mesmo tempo, deixa livre.
Confesso que antes de ter filho julgava ser tudo muito mais simples, até mesmo porque não tinha a menor afeição com o universo infantil. Já hoje tenho de lidar com a dificuldade de deixar minha filha crescer sozinha, mas fazê-la entender que estarei por perto quando ela precisar. Como quando ela anda de bicicleta, e eu fico com a mão atrás, sem encostá-la.
Sentei no sofá e acho que Beatriz percebeu meu desapontamento. Ela se aproximou e estendeu as mãos. Dei um abraço apertado e perguntei se ela podia ser criança e, ao mesmo tempo, a minha bebê. "Pode", ela respondeu. Por enquanto foi um consolo.

Um comentário:

  1. Liginha,

    Sei como você se sente pois quando vejo o Bernardo aprender novas coisas e ficar cada vez mais independente, vejo também que um dia essa independência será total. Espero que um dia ele seja o melhor ser humano do mundo, sem crises, livre, desafiador e sem dúvida muito melhor do que eu e seu pai jamais tenhamos pensado em ser...Quero para ele atinja o máximo de seu potencial e seja o que ele quiser,...mas também que ele sempre saiba que a mamãe estará sempre observado e pronta para apóia-lo em qualquer época.

    Beijo grande da sua amiga que adorou esse espaço...Bia

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